A arte tem um poder incrível na vida de quem a escolhe como meio de expressão. E a dança é uma manifestação artística apaixonante!!!
Iniciei meus estudos em dança no ano de 1980 e não parei mais... (culpa do Roberto Leal e da Gretchen, rs...)
Me apaixonei pelo ballet em 1982. Foi uma "amor à segunda vista" e que perdura até hoje!
Estudei ballet de 1980 a 1993 em Mogi (e jazz, sapateado, dança moderna... e o que mais surgisse à minha frente como orportunidade de aprendizado!). Grande Profª Neusa Tanaka, minha mestra!
Entre 1989 e 1993 estudei paralelamente em São Paulo para me aperfeiçoar. Todas as minhas férias de verão e inverno passei fazendo cursos intensivos. Apesar de crescer muito profissionalmente, não recomendo pois perdi muito de minha vida pessoal. Férias com minha família viravam 4 cursos, presentes de natal que viravam 8 fantasias de ballet, minha formatura de 3º colegial virou minha formatura de ballet e por aí vai... não sei se vale a pena para todos...
Tive professores do mundo todo aos quais sou extremamente grata por tudo que aprendi. Exemplos de vida. E figuras também...Coisas incríveis sobre o que fazer. Também claro, sobre o que não fazer (como se diz, "abafa o caso", rs)
Sou Bacharel e Licenciada Plena em Dança pela Faculdade Paulista de Artes. Modéstia à parte, sou profissional raríssima no Brasil. Infelizmente não temos professores de dança com formação superior. O número é irrisório (para o perigo dos alunos que caem em mãos erradas...). Temos cursos superiores de dança na UFBA, UNICAMP, Paulista de Artes, Anhembi-Morumbi e UFRGS. E só.
Sempre soube que queria dar aula, apesar de amar o palco. Minha mãe conta que com 7 anos eu colocava as bonecas sentadas no quintal, fazia minha lição de casa na lousinha e dava visto vo caderno no colo das bonecas, KKKK!!!! Ah! E com 12 anos eu também colocava uma cartolina do lado de fora do portão de casa escrito "aulas de ballet - grátis - hoje à tarde" e vinham umas 30 crianças desconhecidas na garagem de casa para eu dar aula. E eu dava!
Quando me formei no ballet junto com o 3º colegial (equivalente ao 3º ano do Ensino Médio agora) comecei a dar aulas profissionalmente. Era 1993. Não tinha dinheiro para pagar aluguel ainda, então comecei a dar aulas nos fundos da casa da minha "tia" Soeli (grande amiga da minha mãe). Combinei com ela que 30% do que entrasse seria revertido como aluguel. Feito.
Coloquei (como nos velhos tempos de garagem) uma mesinha na calçada, caderno e lápis na mão, cartolina escrito "aulas de ballet e jazz" pregada no portão e comecei com 10 crianças (entre elas a querida Profª Thays Roggero, que era uma garotinha falante de franjinha, com seus 4 aninhos e suas amiguinhas serelepes...).
No fim do ano éramos em 27 alunas e 1 professora. A apresentação, nosso 1º espetáculo foi no teatro da EE. Prof. Firmino Ladeira.
No ano seguinte, tinha dinheiro para pagar aluguel. Mas consegui alugar... um açougue!!! Faxina no açougue, reforma no açougue e... tchanan! A 1ª "sede" do "Ballet Danielle Bittencourt" com direito a linha telefônica (a mesma até hoje), logomarca e registro na prefeitura.
Foram 7 anos na Av. Brasil no Mogi Moderno; 5 anos na Cel. Souza Franco em frente à Policlínica da FAEP e agora 6 na nossa Sebastião Domingues. Ufa!!!! Hay que trabajar, hay que trabajar!!!
Além da escola, dancei profissionalmente até meus 23 anos. Consegui aprovação da Lei de Incentivo à Cultura para sustentar minha carreira e foi muito importante (e árduo!). Depois, ao optar por "ter família" (o que raramente "casa" com vida de bailarina) entrei na carreira acadêmica.
Fiz Mestrado em Artes Corporais na UNICAMP, sob orientação do Prof. Dr. Eusébio Lôbo da Silva entre 2000 e 2003 e foi um período de intenso trabalho e estudo. Completei todos os 69 créditos e as 1035 horas de aula, continuei fazendo o bate-volta Mogi-Campinas mesmo com o barrigão de 9 meses da Luiza, fui aprovada em banca de qualificação (leia-se "o parto" da dissertação de mestrado, kkk!!!), mas a vida me levou para outra área do estudo da dança após eu passar por uns problemas de saúde: fui parar na Engenharia Biomédica.
Engenharia Biomédica???? E o que isso tem a ver com a Dança?
Olhando assim, de longe, nada. Mas, com o olhar afiado da técnica do artista, do ajuste do instrumento, tudo!!!!!
Fui estudar todos os mecanismos de controle dos movimentos e da estabilidade do corpo humano. E adorei!
Apesar de ter que passar pela aridez das ciências exatas (sim, engenharia é engenharia de qualquer jeito), consegui visualizar o movimento sob outra ótica e ampliar meu olhar sobre a dança.
Hoje consigo ver os gestos como expressões profundas da psique humana, como a mágica da biomecânica do corpo humano, como encadeamentos antropológicos, como o imaginário e a criação do artista, como a possibilidade de ensinar e de aprender o mundo! Quantas coisas no ato de dançar!
Gostei da experiência de passear das humanas para as exatas e saúde e emendei no Doutorado (em Engenharia Biomédica), na minha segunda faculdade (Pedagogia), e no meu aprofundamento no ensino de Ballet Clássico (University of Surrey - UK: Certificate in Ballet Teaching Studies).
Estudar é bom mas só tem utilidade se a gente tem vocação, no meu caso, para ensinar. Hoje eu dou aulas no nosso ballet e na Universidade de Mogi das Cruzes para os cursos de graduação em Educação Física e Pós-graduação em Arte-Educação.
Apesar de amar muito a minha profissão, nos últimos tempos não tem sido nada fácil lidar com o fato de não poder mais dançar. Parece que junto com a última cirurgia foi arrancado um pedaço de mim. É, depois de 31 anos dançando, apesar dos cuidados nos últimos 15 anos, o físico padece, como em qualquer esporte praticado profissionalmente, as lesões têm mais probabilidade de ocorrência...e ocorreram. Os últimos sete meses tem sido tristes, de adaptação à nova realidade, mas... seguir em frente né? Não dá para deixar "a peteca cair", não depois de taaaaanto esforço e dedicação!
E ainda bem que tenho vocês (meus alunos queridos!) para ensinar e passar minhas experiências adiante! Ainda tem muita lenha para queimar!
E se por um capricho da natureza o meu corpo não puder mais dançar, a minha alma continuará dançando, perpetuada nos gestos de todos os bailarinos que eu puder ensinar.
Um grande beijo e um grand jeté!
Profª Danielle